Por Vívia Lima
ENTREVISTA HITLER VAGNER DE OLIVEIRA (PR), candidato a deputado estadual
“Pode entrar, fique à vontade, menina.” Com um de atraso de 40 minutos, o candidato a deputado estadual pelo Partido da República (PR) Hitler Vagner Cândido de Oliveira nos recebeu em seu pequeno gabinete, com um sorriso largo, roupa e cabelo extremamente arrumados. Muito à vontade, o candidato ofereceu água para tentar amenizar o calor daquela manhã de terça-feira, 23 de setembro, e iniciar a entrevista. Aos 45 anos de idade, formado em técnica em contabilidade, Hitler Vagner foi prefeito de Chácara e atualmente é vereador de Juiz de Fora. Foi vereador de Chácara de 2001 a 2004 e prefeito de 2005 a 2008, sendo reeleito para o mandato de 2009 e 2012, do qual se descompatibilizou para disputar uma cadeira na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Renunciou em 30 de março de 2012 a cargo na cidade vizinha e foi eleito vereador para o mandato 2013/2016. O candidato, que não é a favor de projetos de lei, mas sim de “ações”, já presidiu o conselho de prefeitos da Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes) e a Associação dos Municípios do Vale do Paraibuna (Ampar), além de ter sido diretor da Associação Mineira dos Municípios (AMM).
inFormação – O que levou o senhor a ingressar na política?
Hitler Vagner – O que me levou a ingressar na vida pública foi acreditar que poderíamos fazer algo para a sociedade. E os amigos mais próximos me ajudaram a fortalecer para fazer algo que beneficie a sociedade.
Na visão do senhor, qual é a função de um deputado estadual?
Hoje falo o seguinte, nós que somos candidatos, se eleitos, temos uma obrigação muito grande com nossa Zona da Mata, em especial com Juiz de Fora. Hoje vemos que a cidade está sem representatividade depois da saída (da Assembleia Legislativa) do prefeito Bruno (Siqueira). Então, nós temos que olhar nossa região e buscar recursos para cá, pois tivemos uma evasão muito grande de fábricas e indústrias que acabaram tendo mais incentivo de outros estados e deixaram a cidade. Os políticos não procuraram manter as empresas pequenas que já aqui estavam, e trouxeram outras maiores, que não ficaram aqui, e se estão, não tem amor a terra. Temos que valorizar o pequeno empresário da cidade. Vamos ter uma linha direcionada ao pequeno empreendedor para valorizar a região e esse sim tem amor a nossa terra.
Para o senhor, qual a importância de se ter uma cadeira da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ocupada por um candidato de Juiz de Fora?
Hoje, se tiver um representante na Assembleia, a cidade terá em torno de R$4 milhões, se ficar de braços cruzados, se for um deputado apagado. Se deixarmos de eleger um deputado da nossa região, vamos jogar fora esse valor. Em quatro anos, ele traz para a cidade R$16 milhões. Se for um deputado atuante, que possa buscar mais fontes de recursos e incentivo para nossa região, ele pode fazer isso virar R$ 20 milhões ou mais.
Mas, caso eleito, pretende ser esse deputado apagado?
Olha, Vívia, vou dizer para você o seguinte, aquele político que entra para ficar de braço cruzado não chega a lugar algum. Eu dedico minha vida à política. Se fui vereador em Chácara, depois prefeito, onde iniciei a obra na escola e agora sou vereador aqui (Juiz de Fora), é porque temos compromisso com a cidade e com a comunidade que estou representando. Estou aqui há um ano e oito meses. Eu sou muito realizado com minha trajetória política. Projetos eu não tenho, mas procuro trazer e realizar projetos que ajudem a comunidade. Neste tempo, eu procurei trabalhar com a comunidade Filgueiras, um bairro de Juiz de Fora onde conseguimos implantar, junto com o deputado Júlio Delgado e com o prefeito Bruno Siqueira, uma torre de celular. Buscamos R$880 mil com uma emenda parlamentar para recapear a estrada de Filgueiras a Juiz de Fora. Esse recurso veio para a Prefeitura, e poderia aplicar esse valor em outro lugar, mas o Bruno nos escutou. Na escola dessa comunidade está sendo feito um vestiário no campo de futebol no valor de R$38 mil. Conseguimos um recurso de 96 mil para iluminar o canteiro central de Filgueiras, no patamar da avenida Rio Branco. Utilizamos um recurso, que já existia na Prefeitura, para aplicar na construção de uma quadra ao lado da escola. Cobramos da Prefeitura e conseguimos. Você fala pra mim: Vagner, porque você apostou tudo em Filgueiras? Eu cheguei aqui vereador. Sei a diferença de um vereador para um cargo executivo. Precisei apostar em um lugar para que meu trabalho pudesse destacar. Se eu ficasse solto em Juiz de Fora, não apareceria. Então apostei todos os esforços em um lugar que fui majoritário. Me trouxeram até aqui, cabia a mim retribuir.
Candidato, o senhor fala desse olhar para a comunidade, do investimento na escola de Chácara e de Juiz de Fora. A construção de espaços de ensino com a infraestrutura adequada não deveria ser algo comum, que todo chefe do Executivo deveria privilegiar? Por que isso é considerado um diferencial?
Quando prefeito (em Chácara) tinha um plano de governo que era construir essa escola. Eu precisava pelo menos levantar essa obra para que só assim pudesse concretizar minha vontade. E me via terminar o mandato sem cumprir isso. Como lá temos o projeto de escola integral, precisávamos tornar esse ambiente mais agradável, afinal ninguém fica na escola lendo o dia todo. Conseguimos reeleger nosso candidato. Nossa ousadia foi cancelar todos os eventos para terminar essa obra. Nós, políticos, temos a obrigação de corresponder a ansiedade do cidadão que deposita a confiança em nós.
Por terem a obrigação, o senhor não acha que isso não é nada mais que o cumprimento das promessas de campanha?
Claro, exatamente. Eu concordo com você que nós temos essa obrigação. Eu falo que quando uso a tribuna desta Casa (Câmara dos Vereadores), eu penso muito, pois tenho que encarar esse cidadão no espelho, e este cidadão sou eu mesmo. Eu tenho que me orgulhar das minhas atitudes.
O senhor falou anteriormente de compromisso com a sociedade. Quais são suas principais propostas?
Buscar recurso para nossa cidade e ser um elo entre ela e o estado, para que os municípios tenham algum representante que possa chegar ao governo do estado para atingir nossas metas.
E como o senhor pretende alcançar isso?
Através de projetos que o próprio governo do estado tenha implantado.
Já existe algum plano que o senhor se interessou?
Olha, eu ainda não me filiei a nenhum candidato. Nenhum candidato de partido coligado me chamou para conversar. Eu não posso influenciar a comunidade a votar antes de ter um respaldo deles. Preciso sentar com eles para definir meu apoio e só assim cobrar. O compromisso é o meu com a sociedade.
Mas a eleição já bate à nossa porta. O senhor acha que até a data, já tenha definido seu apoio, até lá o senhor ainda consegue conversar com algum deles? O senhor não deveria estudar isso?
Eu esperei isso até agora, Vívia. Talvez se eu já tivesse tido essa reunião eu estaria comprometendo parte do meu eleitorado. Preciso tomar essa decisão, mas para isso, é necessário convicção.
O senhor acha que vai haver tempo hábil para que de hoje até a data da eleição, o senhor decida em quem votar?
A população está indecisa, falo por mim, que sou candidato. Olha a insegurança. Imagina a população que está mais distante? Isso é o cenário que estamos vivendo no Brasil, isso porque os políticos estão distantes da sociedade. Temos que nos fazer presentes.
O senhor consegue se fazer presente?
Acredito que sim, senão não chegaria até aqui.
E de que forma o senhor se faz presente?
Participando dela, ouvindo as reivindicações e realizando obras. Caso não estivéssemos antenados à sociedade, não conseguiríamos realizar tais coisas.
O senhor considera que tenha elaborado algum projeto de destaque na cidade que poderia ser estendido para o estado de Minas?
Os projetos que você fala são projetos de lei? Eu ainda não apresentei projeto a essa extensão. A sociedade não aguenta mais leis. Se cumpríssemos apenas a Constituição não precisava mais de projetos. Pois nela tem tudo: segurança, estudo, lazer, e o próprio governo coloca em prática. A população quer ação. Ela não elegeu o Vagner para criar leis, e sim ver as necessidades e auxiliar o Executivo nas suas ações. A sociedade cansou de papel. Temos um projeto aprovado recentemente, um de proibir de jogar lixo na rua, mas não têm lixeiras. Para isso, precisa-se do recurso. Varinha de condão não coloca lixeira. Temos que sair do gabinete para mostrar os problemas ao Executivo. Não podemos mais ficar assentados dentro de gabinete. Estamos usando os meios de comunicação para mandar fotos e constatações de problemas nas ruas de cidade.
E se eu fizer a pergunta: que projetos estariam dentro da sua visão estratégica para a região, o senhor tem algum em mente?
Eu sofri na pele o que é não saber em quem bater na porta. Eu quero ser o elo para chegar ao governo do estado e ao federal.
Se fosse eleito hoje e amanhã pudesse apresentar dois projetos de lei, quais seriam as suas prioridades? Explique por que são importantes e quais setores da sociedade seriam beneficiados.
Dois projetos que poderia lutar seria expandir a comunicação, para que toda a sociedade tenha internet para se comunicar. Esse seria o mais ousado. Comunicação naquela pequena comunidade, para que possa estar ligando a região ao país e ao mundo. A pessoa que tem celular, tem entretenimento, saúde, segurança, pois vai ligar para o socorro, ligar para a polícia. Dentro de Juiz de Fora temos essa carência. Outro (projeto) que pretendo é trabalhar com a pecuária, para atender produtor rural – ele precisa ser mais valorizado. Temos que assegurar o homem do campo. Hoje o homem está voltando para a zona rural, eles veem a propriedade como fonte lucrativa, como empreendimento. Investir em incentivos para aumentar a renda. Essas são as maiores demandas da sociedade.
O senhor está quase na metade de seu mandato de vereador, e este ano teve apenas três projetos de lei que foram encaminhados ao Executivo, sendo estes solicitando mudança em nome de praça, mudança de nome de rua, além de concessão de título de cidadã benemérita à senhora Cristina Maria Ribeiro Pinto. Quais as dificuldades encontradas pelo senhor em elaborar leis que atendam às demandas da população?
Olha, Vívia, volto a falar, a sociedade está cansada da elaboração de projetos. Ela quer ação. Se pegar no arquivo, são excelentes projetos, mas na hora da prática eles não funcionam. Quero levantar as demandas e ter fatos concretos. Nossa função é fiscalizar e legislar. A população quer chegar ao hospital e ser atendida. Precisamos investir no pessoal no hospital. Mas as ambulâncias fazem propagandas, elas que circulam nas ruas, e dentro do hospital ninguém vê.
O senhor bate na tecla que a população quer ação. Como esses projetos que o senhor elaborou mudam a vida da sociedade?
Esses projetos foram apenas resultado daquilo que a sociedade pede. Resultado de abaixo-assinado.
Mas a sociedade também apresenta pedidos sobre saúde, educação, segurança e afins? Eles são atendidos?
Sim, mas são funções do Executivo.
E as demandas que vêm da sociedade, o senhor passa para o Executivo? É atendido?
O prefeito tem sido grande parceiro das nossas reivindicações. Sempre que possível, ele nos atende.
Mesmo sem a elaboração de leis, o senhor gastou, de janeiro a julho deste ano, R$ 42.383,52 com verba indenizatória? Como explica esses gastos, mesmo sem a elaboração de projetos de destaque.
Mas ai é que está. Nós precisamos da consultoria jurídica para analisar as contas do Executivo anterior e atual. Ela me dá esse amparo na hora que voto em algum projeto. Temos também combustível, pois meu pessoal está nas comunidades levantando as demandas. Hoje eu me sinto convicto de um trabalho sério e esse gasto faz parte do meu compromisso com a comunidade.
O senhor tem equipe espalhada pelas ruas?
Temos uma equipe que trabalha no gabinete, são dois funcionários que, vez ou outra, fica pelas ruas dos bairros e pela região central levantando os problemas.
O senhor não acha que esse valor é muito alto e que poderia ser empregado noutro lugar?
Não, pelo trabalho que a gente apresenta. Só assim consigo apresentar os problemas e não fico assentado aqui no gabinete.
Candidato, vamos mudar completamente de assunto. O senhor sente-se constrangido de alguma forma por ter Hitler no nome? Nota-se que o senhor não usou muito o primeiro nome nas últimas eleições e agora ele aparece mais no material de campanha. Por quê?
Não, tanto é que o lancei para esta campanha.Todos me conheciam como Vagner ex-prefeito de Chácara. Ano passado foi aprovada uma lei que não poderia mais vincular o nome a repartições e cargos públicos. Tendo essa proibição, resolvi lançar meu nome completo, até mesmo para dar rima. As pessoas até disseram que o Hitler iria me comprometer, mas acreditei que não. Se assim fosse, ninguém poderia chamar Fernando por causa do Fernandinho Beira mar, quantos Jesus temos por aí. O Hitler provoca o olhar, chama a atenção do povo. “- Quem é o Hitler?” “- Ele é ex-prefeito de Chácara e vereador de Juiz de Fora”. “- Ah!” Esse “ah!”‘, ele é incrível, ele acompanha minha campanha. Foi uma ousadia da nossa parte. Meu pai chamava Hitler, minha mãe fez essa homenagem a ele. No meu tempo de escola sempre me chamaram de Vagner. Eu senti que o momento do Hitler era agora.