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“O legado de Eduardo traz o compromisso de buscar o melhor para o povo”

ENTREVISTA COM JÚLIO DELGADO (PSB), candidato a deputado federal

Por Rafaela Almeida

Candidato a deputado federal Júlio Delgado em entrevista ao blog InFormação. (Foto: Rafaela Almeida)
Júlio Delgado diz esperar que Marina assuma compromissos de Campos  (Foto: Roberta Oliveira)

“Tenho entre 40 e 50 anos, sabe por que eu disse isso não é? Sabe qual meu número?”. Com jeitinho tipicamente mineiro e conversa fácil, assim começa a entrevista com o deputado federal e candidato à reeleição Júlio Delgado (PSB). É notável que o sangue político corre nas veias. Júlio Iniciou sua vida política como militante no movimento estudantil no início da década de 1990, quando cursava a faculdade de direito pela UFJF, seguindo a trajetória profissional e política do seu pai, o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado, que hoje é seu correligionário. Pós-graduado em Processo Legislativo pela Universidade de Brasília, disputou pela primeira vez o cargo de deputado federal em 1994 pelo PMDB, sem obter sucesso. Em 1998, alcançou a suplência para o cargo de deputado federal, assumindo entre 1999 e 2000. No ano seguinte, filiou-se ao PPS e em 2002 foi eleito deputado federal. Em 2005, muda para o atual partido, o PSB, conseguindo reeleger-se por mais dois mandatos, em 2006 e 2010. Após a morte de Eduardo Campos, Júlio foi cotado para ser vice de Marina Silva (PSB), mas, entre correr o risco e ter nova oportunidade de fortalecer o partido na Câmara Federal, continuou na disputa para deputado.

InFormação – Desde a faculdade o senhor tem engajamento nas causas estudantis. Por que ingressou na vida política? Foi por influência do seu pai?                                                                                 Júlio Delgado – Acaba que, como as pessoas dizem, isso está um pouco no sangue. Engraçado que dos cinco filhos, o único que entrou para a política fui eu, e não sou o mais velho. Eu tenho uma irmã e um irmão mais velhos, e um irmão e uma irmã mais novos, sou o filho do meio. Acho que por ter feito direito, participado do DCE (diretório central dos estudantes) e do diretório acadêmico da faculdade, fizemos bons embates na época com lutas que ultrapassaram os muros da universidade. Tivemos um grande debate com candidatos à presidência na universidade (UFJF), conseguimos levar dois, três presidenciáveis na Federal. Acho que fizemos um grande trabalho que pode daí, ter começado o desejo de participar da vida pública. Muita gente acha que eu participo só por ser filho do Tarcísio, mas comecei muito antes na política estudantil. E depois, por coincidência, fiz pós-graduação em processo legislativo. Então, acabei estagiando na secretaria-geral da mesa da Câmara dos Deputados, trabalhei na elaboração de projetos de lei, e isso me deu um pouco desse desejo.

Como estamos falando de trabalho, qual é o papel de um deputado federal?                                                                                                         Um deputado faz diversas coisas, leva de retorno para a cidade que ele representa recursos orçamentais, como eu coloquei, por exemplo, recurso na universidade para adquirir a área da Mata do Krambeck, onde hoje está sendo construído o Jardim Botânico (da UFJF). E isso foi uma medida de defesa, justamente para a mata não virar um condomínio de luxo, como estava em eminência de acontecer. (…) A outra é você tentar honrar o voto dado a este cidadão lá em Brasília, quando você o representa em determinadas votações, como para o salário mínimo, para o fim do fator previdenciário ou para a reforma tributária. Este ano, teve uma luta muito grande com a qual fiquei muito sensibilizado. Pais de crianças portadoras de paralisia cerebral pediam a autorização da Anvisa para, com uma portaria, liberar um medicamento que é feito a base de Canabidiol, uma substância que é encontrada na maconha. Sou defensor da liberação destes medicamentos para fins terapêuticos. E no meio deste ano, junto com o deputado Alexandre Mussi, que é um médico homeopata, fiz uma audiência para demonstrar à Anvisa, através desses depoimentos, a importância da abertura desta portaria. Em agosto deste ano, ela liberou 37 medicamentos a base de Canabidiol. (…) A gente comprova que pode melhorar a qualidade dos candidatos, a imagem do legislativo, e isso tem sido de certa forma uma bandeira que as pessoas, quando veem minha atuação, já identificam.

Deputado, o CQC fez uma matéria em que ironizava um hábito dos deputados de assinar documentos no Congresso sem ler. E o senhor foi um dos que assinaram a proposta de emenda à constituição (PEC) que incluía um litro de cachaça na cesta básica. Posso te mostrar esse vídeo?                                                                                                     Pode!                                                                       http://youtu.be/2ypcOL7pYew

Então deputado, o que aconteceu nesse dia?                                       Primeiro,o que acontece na Câmara hoje, e muitos não sabem, é que os deputados colocam pessoas para pegar assinatura de apoio. E qualquer apoiamento que você dá, para tramitar o projeto, você pode depois retirar a assinatura. Eu falei que assinei para apoiar um colega, e expliquei dizendo que não acredito que alguém seja a favor de incluir o litro de cachaça na cesta básica. Ainda perguntei se era uma pegadinha, e ela disse que não. Então, ela mentiu pra mim e editaram esta parte. Expliquei em seguida que não tem nenhum problema, se eu assinei uma PEC para colocar cachaça na cesta básica, eu retiro. E essa parte não saiu. Apenas a parte em que eu tinha comentado que não sabia o que tinha assinado foi ao ar. Depois desta matéria, nunca mais assinei nada no corredor. E isso foi um grande prejuízo para pessoas que trabalham recolhendo assinaturas lá na Câmara, porque tinham mais de 20 pessoas que trabalhavam para os deputados, e muitas dessas perderam seu emprego. Fruto de uma pegadinha feita pelo CQC. Agora, eu fico satisfeito de seis anos depois, isso aconteceu em 2008, a única coisa que têm para falar a meu respeito é esse caso. Quando fui relator do caso André Vargas, e tentei corrigir a conduta dos deputados na Câmara, eles falaram o seguinte: mas não foi o senhor que assinou a PEC da Cachaça? Então, por causa disso, eu tenho que responder questionamentos desse caso nas redes sociais (…). Muito maior que isso, tem o trabalho que eu venho realizando, reconhecido pelo povo, e fui reeleito em 2010, logo depois desta matéria.

E por que disputar a reeleição?                                                                 Para poder continuar fazendo um bom trabalho, para poder inclusive representar Juiz de Fora e região. Para melhorar a qualidade do legislativo e qualificar seu trabalho e o Congresso não deixar de ser o espelho da sociedade. (…) Você vê no meu Facebook mesmo, a atitude de um cobrador que encontrou a aposentadoria de um cidadão e devolveu. Esse é um exemplo de que o país tem pessoas que fazem a diferença, e queremos ser o espelho disso. Claro que lá (no Congresso) tem muita gente boa e muita gente ruim, como na sociedade. Prefiro cair do deslize bobo de uma pegadinha do que fazer algo que possa comprometer o meu mandato. E é por isso que eu continuo sendo candidato a deputado.

Muitas propostas tramitam há anos no congresso, qual você gostaria de votar se for reeleito?                                                                            O fim do fator previdenciário é uma proposta que a gente já votou e foi vetado pela Dilma (Rousseff). Aqueles que hoje têm a idade e não o tempo de serviço, têm corroído seu vencimento de 20% a 30% do fator previdenciário, essa é uma grande bandeira que eu queria que fosse votada, juntamente com a questão da igualdade tributária. É uma pauta nossa também, para o começo de 2015, a questão dos 10% dos recursos da saúde, assim como a do ensino integral.

O senhor era muito ligado ao Eduardo Campos, que dificuldades a morte dele causou para o partido?                                                           O Eduardo foi uma perda política, uma perda pessoal, uma perda de amizade, da relação que a gente tinha. Ele era o maior político da minha geração, um cara que eu tive o privilégio de conviver, de estar perto e no partido, de ser amigo, e ele tem feito muita falta para nós. (…) Hoje temos a Marina (Silva), que, surpreendentemente, para a nossa alegria, tem feito todos os honrados, todos os compromissos que o Eduardo fez. Nós vamos sentir daqui a alguns anos o legado que ele nos deixou em função do que ele estava proporcionando. Ele gostava de destacar uma fala de Vitor Hugo na Revolução Francesa: “feliz o homem quando suas ideias chegam no seu tempo”. Eduardo deixou de ser homem e passou a ser ideia. Tem dias que eu pego meu telefone, e tenho vontade de mandar uma mensagem, perguntar coisas, tratar de um assunto, mas eu sei que do outro lado não vai vir a resposta. Então, eu fico só saudoso, persistindo no comprometimento de levar à frente o PSB em Minas Gerais. E a gente tem feito isso.

E acha que a Marina está representando bem o partido? Você concorda totalmente com as propostas dela?                                           Se a Marina falar que vai assumir todos os compromissos do Eduardo com o povo brasileiro eu já estou satisfeito, isso pra mim já basta.

O senhor já foi considerado aliado do Aécio, como fica seu posicionamento junto ao candidato, frente a atual conjuntura?

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Eu não era aliado do Aécio, eu sou amigo e espero continuar sendo, porque depois deste processo todo eu não falei mais com ele. Não tanto quanto o Eduardo Campos, porque nossa relação era familiar, era muito mais próxima. Com o Aécio, meu compromisso era exclusivamente com ele e tínhamos uma relação muito boa. Lógico que depois de eu ser escolhido para presidir o PSB, o Aécio ficou meio sentido por eu ter que fazer uma opção, já que ninguém serve a dois senhores. Eu tinha uma relação partidária e pessoal com o Eduardo, o que me fez caminhar com ele, e acho que o Aécio compreendeu.

O senhor gostaria de deixar uma mensagem para o povo de Juiz de Fora?                                                                                                             O cidadão de Juiz de Fora nos conhece, sabe da nossa postura e conduta. Acompanha o nosso mandato, é um povo politizado, que reconhece o trabalho que a gente tem feito em Brasília. Por isso, tem me dado esperança nestas eleições e tento honrar essa confiança com um trabalho digno. Quem achar que a gente pode mudar esse país, contribuir de forma efetiva pela posição que nos colocamos hoje, de proximidade com um projeto maior do PSB, da construção dos destinos do partido em âmbito nacional e em Minas (…), meu nome está aí mais uma vez. As pessoas sabem disso, nos conhecem. Vamos tentar romper qualquer dificuldade, e elas existem no período eleitoral, o próprio falecimento do Eduardo foi uma dificuldade muito grande para nós retomarmos a campanha.  Mas acima de tudo, o legado de Eduardo traz o compromisso de buscar sempre o melhor para o povo que representamos. É isso que eu espero continuar fazendo, se for me dado a honra de mais um mandato, em nome do povo de Juiz de Fora e região.